Soluções do ozônio para o mundo 06/05/2015

Jornal da USP: Link da notícia

(Dênis Pacheco – 6 Maio 2015)

 

Gás produzido por empresa incubada na Cidade Universitária pode ter aplicações em vários ramos da atividade humana – desde a indústria de alimentos e a pesca até a mineração, a agricultura e a medicina

No coração da Cidade Universitária, em São Paulo, uma pequena empresa tira literalmente do ar – ao transformar oxigênio em ozônio – soluções para alguns dos maiores problemas criados pelo homem. A Brasil Ozônio, instalada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) – que fica no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) –, completa dez anos em 2015. A empresa desenvolve, fabrica e instala soluções em processos de tratamento, sanitização, esterilização e oxidação, customizadas para as mais diversas aplicações, processos e peculiaridades. Hoje com duas fábricas no próprio Cietec e mais de mil instalações, ela já é reconhecida no mundo inteiro.

São muitas as aplicações do ozônio, tanto na indústria de alimentos e pesca como na higienização de ambientes e até mesmo de instrumentos hospitalares. O engenheiro Samy Menasce, administrador à frente da empresa, destaca um de seus maiores projetos: a limpeza de água contaminada no entorno de minas, após décadas de exploração. “Em Minas Gerais, na região de Poços de Caldas, ‘criamos’ a primeira mina de manganês do Brasil”, afirma o empreendedor, com orgulho. Isso porque, entre 1982 e 1995, permaneceu ativa a primeira mina de urânio do País que abasteceu os reatores de Angra 1 e 2, contaminando toda a água ao redor com metais pesados, em especial o manganês.

Em julho de 2013, a Brasil Ozônio passou a trabalhar com apoio da Fundação Pátria da Marinha e do Fundo Tecnológico (BNDES Funtec) para aplicar uma solução à área. Utilizando o ozônio para reagir com os metais, a iniciativa promoveu a decantação dos poluentes. A técnica recuperou a água, liberando oxigênio, não deixando lama e permitindo que os metais decantados pudessem ser vendidos. “O método anterior para conter a contaminação era o uso do óxido de cálcio (a cal)”, explica Menasce. “Mas isso não resolvia, apenas afundava os metais e secava a água no local. Hoje conseguimos economizar de 85% a 90% da cal utilizada, o que também é um ganho para o ambiente”, pontua ele. São ao todo 12 pesquisadores, a maioria da USP, em geral doutorandos, e uma equipe do Ipen, que trabalham para concluir o projeto.

A experiência em Poços de Caldas gerou oportunidades para o uso da técnica em minas de carvão e outros metais que geram a chamada drenagem ácida, um problema ainda sem solução definitiva. Em Criciúma (SC), cidade com o maior número de minas de carvão do País, a Brasil Ozônio também foi convocada para auxiliar no tratamento das reservas de água contaminada. Foram criados laboratórios em quatro contêineres que higienizam as reservas ao redor das minas com ozônio, somando esforços com um processo químico e físico que devolve a água limpa para o ambiente. Além da empresa, a Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) também participa do projeto para encontrar formas de lidar com os rios mortos da região de Criciúma. “Todo o ativo vai para a universidade no final do projeto”, salienta Menasce.

Não são poucas as aplicações da tecnologia criada pela Brasil Ozônio na solução dos mais variados problemas. Na bovinocultura, por exemplo, o ozônio promete ajudar pecuaristas a combater um inconveniente minúsculo, mas que pode gerar grandes males. “Com a nossa técnica, criadores podem dar um banho de ozônio nas vacas, o carrapato cai e não adere mais. O ozônio age também como germicida, não afetando a vaca nem o leite”, explica o engenheiro. Ainda nas fazendas brasileiras, a empresa almeja que a utilização do ozônio livre plantações dos temidos agrotóxicos, algo já testado pontualmente em safras de maracujá e tomate e, em breve, na produção do café.

Estados Unidos – “Já exportamos para o Peru e para a Argentina”, afirma Samy Menasce. Planejando ampliar ainda mais sua rede de exportações, a Brasil Ozônio conquistou este ano a chance de participar de uma missão comercial nos Estados Unidos. A oportunidade veio após sua participação num evento anual que reuniu empresas com foco em inovação. Criado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGV-Ces) da Fundação Getúlio Vargas, o evento consistiu numa série de encontros no decorrer de um ano, duas vezes ao mês, oito horas por dia, para a discussão de assuntos relacionados à inovação.

A missão comercial será realizada no Estado da Califórnia e ocorrerá entre a última semana de maio e a primeira semana de junho. O objetivo é auxiliar as empresas a entender as características do ambiente de negócios, considerando um mercado comprador que demanda a sustentabilidade dos produtos e serviços exportados. O conteúdo técnico da agenda da viagem está em fase de construção, mas incluirá visitas ao escritório da Apex-Brasil, em San Francisco, e participação no evento de intercâmbio de práticas de sustentabilidade Sustainable Brands, em San Diego.

“A Apex entende que existe um campo a ser exportado nessa área”, explica o engenheiro, ao revelar que os participantes foram selecionados por sua atuação e desempenho nas atividades do projeto, nos serviços oferecidos pela Apex e no grau de maturidade e estruturação de seus negócios.